quinta-feira

MISSIVA

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Essa greve dos correios me fez lembrar da minha ansiedade quando, num tempo nem tão remoto assim, enxergava ao longe o carteiro entrar na minha rua. Vibráva com iminente chegada das cartas de amigos, parentes e ...namorado, principalmente de namorados. Talvez eu devesse incluir aí os ex-namorados também.

Hoje, uma greve atrasa a entrega de coisas consideradas mais importantes, como contas, documentos e encomendas materiais, ou seja, correspondência anti-sentimental, já que cartas pessoais, escritas a lápis ou caneta, viraram peças de museu. É um recurso utilizado apenas por homens e mulheres que não possuem um computador em casa e no trabalho, e que nem cogitam entrar em num cybercafé.

Outro dia recebi uma carta, uma não. Duas! Uma do interior de Minas e outra de Canoas-POA. Cartas escritas a mão, e fiquei sem ação: como faço pra responder? Ora, bastaria pegar um papel, escrever, envelopar, selar, ira até uma agência dos correios e remeter – me lembro como faz. No entanto, para quem se acostumou com a instantaneidade do email, enviar uma carta se transformou numa via-crúcis!!!

Mesmo rendida à correspondência virtual, que dinamiza e facilita de forma estupenda a vida da gente, sigo cultivando uma certa nostalgia pela carta, aquele calhamaço em que depositávamos nossas ridículas palavras de amor, chegando a cometer poemas e decorá-los com ingênuos corações no lugar dos pinguinhos dos is. É, eu fazia isso.

Nas cartas em que contávamos detalhes sobre alguma viagem, contando da nossa vida em outra cidade, um relato minucioso do cotidiano modificado, dos novos hábitos e das surpresas da troca de rotina. Cartas com fotografias em meio às páginas, cartas com pétalas arrancadas afoitamente de um jardim , quando a viagem aprecia ser mais longe que agora, já que existem internet e webcam encurtando as distâncias. Temíamos voltar para casa antes mesmo de chegarem as tais cartas.

A carta era um abraço. Era comunhão.

Uma prova inquestionável da importância que o destinatário tinha para o remetente. O email até permite isso tudo, mas é tão fácil digitar e enviar que o feito fica sem pompa, a sinceridade parece gratuita, a ligeireza extingue a dedicação que o ato de escrever merece.

Carta, ao contrário, é um esforço. E o esforço dignifica.

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