quarta-feira

Linda noite
Se a vida noturna do Rio de Janeiro anda combalida pela insegurança das ruas, o mesmo não se pode afirmar da vida cultural, que segue em alta, com uma efervescência e uma vitalidade impressionantes. Prova disso é o evento Te Vejo na Laura, que uma vez em cada mês ocupa o palco da Casa de Cultura Laura Alvim, um dos mais ativos e prestigiados espaços culturais da Zona Sul carioca.

Acompanhada por uma amiga, estive lá no início da noite de segunda, para conferir e posso dizer que o espetáculo superou as minhas expectativas, que já eram bastante altas .
Uma platéia interessada e antenada. Com o teatro lotado, mais de 250 pessoas se espalharam entre platéia, balcão, cadeiras extras e até no chão pra assistir a 2h de arte da melhor qualidade, conhecendo o trabalho de gente nova e vendo seus ídolos experimentando novas possibilidades.

Além disso, agregaram os artistas plásticos no projeto, com exposições pelas paredes do teatro dando o clima das noites. Artistas incríveis se apresentavam mostrando o melhor de seus trabalhos.
A programação ficou bacanérrima, um público e absolutamente entregue, que chegou sem saber o que esperar e saiu embevecida com o que viu.
Aí embaixo, algumas fotos do que rolou, mas como sempre é preciso ressaltar: elas só dão uma idéia - bem vaga - do que se viu e se ouviu...

(só mais um pouquinho)

Linda noiteeee! rs
Convidados super especiais!!!
Sem mais blá blá blá, elas estão aí embaixo, pra deleite geral


O palco lá e eu cá, na expectativa do que estava por vir.
E o que veio foi melhor do que a encomenda!


Maria Rezende, diz seus poemas emocionada.


Joana ficou tão feliz com a reação aos seus poemas que já pensa em publicar um livro!
Aqui vai um poema da Joana Fomm, um dos que ela leu nessa noite e que eu adorei!


Definição - Joana Fomm

Eu sou aquela que pede licença para viver
e se desculpa em seguida.
Me sobram pés e mãos e atravesso a vida
sem bolsos e descalça.
Sem me desviar das situações.
Eu sou aquela que se lambuza no caramelo
e tropeça na saia do vestido curto.
Quando gritam na rua : - Olha ela!
sou eu que me viro.
Sempre troquei as bolas,sempre ri fora de hora.
Como a vida sem saborear,passo a mão sem explorar o tato,amo sem gorjeio.
Me exponhona esperança de secar o poço.
E ser tão normal quanto a minha vizinha, que engole seus sapos, com dignidade
.



Camila Pitanga lendo Hilda Hilst



Letícia Spiller dando voz aos seus versos



Carlos Malta e sua flauta mágica: quem ouviu sabe o que foi...


Malta arrebentando a boca do balão



Affonso Romano de Sant´Anna, um dos grandes poetas, bacana mesmo porque junta academia e vida, estudo e palco, performance e seriedade.
Ele lê seus poemas bem demais e impressionou o público
lendo poemas seus da sua Poesia Reunida, lançada no ano passado pela LP&M.



Thalma de Freitas, linda e sonora, cantou
as canções de Xica da Silva e Orfeu



Antônio Calloni iluminado
levou à platéia do riso à emoção em suas leituras



Marcelo Serrado cantou, tocou violão, mas não podia deixar de tocar seu principal instrumento, a gaita, que o acompanha desde a adolescência.
Ele fez duas músicas acompanhado pelo seu professor de violão, Fernando (que ele chama carinhosamente de 'patrão') e ainda leu um poema de Augusto dos Anjos.



Lázaro Ramos, ator genial e corajoso, subiu ao palco pra reviver seus dias de Madame Satã cantando uma das canções do filme e o Lázaro surpreendeu todo mundo com uma versão inédita de uma das canções do filme, em que ele fez a pedido da direção uma mistura de Elza Soares, Dona Clementina e Marisa Monte!
Só pro público em questão...



A participação mais esperada da noite não decepcionou: Ana Carolina arrasou na leitura!
A cantora, que estudou Letras em Juiz de Fora mas teve que abandonar o curso para se dedicar à sua carreira musical, disse que sempre adorou poesia e que um romance de Clarice Lispector foi seu primeiro alumbramento com a literatura.
Ela leu um trecho do romance, e emendou no poema "Safena" (que eu AMO), de Elisa Lucinda.

E falando DELA, ELA estava lá, Elisa Lucinda assistiu a tudo da platéia, subiu depois ao palco e mantendo o clima de troca-troca proposto (e aqui eu quase tenho um treco! Uma síncope!! - a máquina digital fez greve nesse momento – Grrrrrrrrr) cantou três canções foi exercitar arte nova.



Chicas dando show: Fernanda Gonzaga, Amora Pêra, Paula Leal e Isadora Medella (todas filhas de Feras)



A Luiza Mariani, atriz, deu um show lendo dois poemas do Gullar: "A vida bate" e "Maio 1964".



Othon Bastos, grande admirador do poeta, reuniu versos de cantadores nordestinos e os dedicou a Gullar. Depois, leu o cordel "A luta entre Z? Peleja e Tio Sam", escrito por Gullar em sua fase de protesto.



Geraldinho Carneiro, mesmo de perna quebrada, subiu as escadarias do teatro pra homenagear o Gullar



No fim da noite o Gullar subiu ao palco pra agradecer todo alegre com a reunião de amigos e admiradores em torno da sua obra.
Foi um privilégio e uma honra estar com ele e ver o sorriso dele ouvindo seus versos serem ditos por gente tão variada.

Ferreia Gullar, para lá do artista que é, é dono de uma expressão (refiro-me a face, gestos, timbres) das mais puras e desmascaradas.
Quando o Gullar fala, parece que a alma dele vem junto, de uma vez, em cada palavra, sílaba, freqüência, cada luz faiscante dos pequenos olhos, cada sorriso desarmado, pueril, que, do alto de seu vulto e do espectro que seu pensamento abrange, ganha brutal beleza e força, uma força que muita gente procura por todo um ano, ou uma vida, e não acha, e que, se olhar-mos bem para o Gullar, não será difícil extrair para si, sem grande esforço, desde que o prórpio espírito esteja, naquele momento, tão desarmado quanto o tal sorriso.

Essa noite foi mesmo especial e particularmente tocante
E deixou uma certeza... Todo mundo fica doido pra voltar, e querendo saber quando é o próximo.

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