domingo

Eu morro e não vejo tudo

Image hosted by Photobucket.comHá um site na Internet que permite que católico do mundo inteiro acenda uma vela virtual Image hosted by Photobucket.compara Sua Santidade o Papa João Paulo II, digamos, um “Altar Virtual”,
e o mesmo site tem outra “prestação de serviço” permite que os católicos se confessem pelo computador
Não estou brincando. Eles lhe darão boas-vindas, convidarão para refletir sobre os seus pecados, arrepender-se, e aí você decide, ou confessa em silêncio, olhando para a tela do computador (a imagem é um céu azul com um girassol e música gregoriana) ou pode fazer sua confissão por escrito mesmo com a promessa de que nada será vazado. Ela será enviada ....pra onde mesmo??

Lembro-me como se fosse hoje: eu, aos dez anos de idade, ajoelhada numa casinha sinistra, escura, malcheirosa, dizendo para um vulto escondido atrás das treliças que eu havia dito palavrão, que havia discutido com minha mãe, que havia esquecido de rezar na noite anterior, que havia matado aula de matemática (mentira, era de religião). Um treinamento básico para desenvolvimento de culpas. O padre quieto, provavelmente dormindo com aquela cantilena. Lá pelas tantas, ela acorda e pergunta: estás arrependida, minha filha? Sim, eu respondia, pecando mais uma vez. Então reza dois pais-nossos, duas ave-marias e vá com Deus. Pronto.Estava quite de novo.

Nunca compreendi direito essas confissões cochichadas, e sempre estranhei que entre os dez mandamentos estivessem coisas tão antagônicas quanto “não matar” e não cobiçará a “mulher do próximo”. Todo crime é pecado, mas nem todo pecado é crime. Ficava imaginando como um padre reagiria diante da confissão de um serial Killer que tivesse matado vinte criancinhas, já que, não havendo hierarquia nos pecados, seria o mesmo que ele confessasse que estava de olho na mulher do vizinho. Até que soube que um padre que, tempos atrás, quebrou o voto de sigilo e entregou para a polícia um homem que havia confessado ser matador de aluguel. O assassino, num momento de fé, resolveu dar uma limpada na consciência, já que o nome e a reputação haviam ido para o quinto dos infernos, mas encontrou pela primeira frente um padre justiceiro que acredita que uns são mais filhos de Deus do que outros: calúnia tem perdão, blasfêmia tem perdão, furto tem perdão, mas você vai em cana, meu irmão.

Crime é assunto exclusivo da justiça, e pecado é assunto de todos nós. O pecado mora ao lado, mora em cima, mora embaixo. O pecado mora dentro. Se eu fosse totalmente herege, diria até que é um dom divino, é o que nos torna humanos. A própria igreja, através desse último papa, João Paulo II, fez há não muito tempo seu meã-culpa por todos os erros cometidos no decorrer da sua história. E fez isso como deve ser feito: admitindo sua falta em voz alta. Sempre é mais producente pedir perdão para os diretamente atingidos: pais, amigos, colegas, professores, namorados, cristãos ou não. Pedir desculpas olho no olho pelas frustrações que causamos, por termos sido omissos, reconhecendo sinceramente nosso erros, sem intermediários. Pedir perdão pela Internet me parece tão ineficiente quanto acender velas e pedir perdão no silêncio do confessionário: são métodos virtuais demais para aplacarem remorsos verdadeiros.Image hosted by Photobucket.com

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